domingo, 23 de outubro de 2011

Uma lição de vida - 1

           Amanheceu e o dia estava radiante! Como sempre, desci para degustar o maravilhoso café da manhã que mamãe se propunha a preparar todos os dias. Dona Maria era uma cozinheira de mão cheia. Papai, o senhor Wilson, era um homem batalhador. Morávamos em uma casa simples, com cinco cômodos em uma cidade do interior.Para quem não me conhece, sou Tonny e estou com 28 anos. Hoje, contarei um pouco da minha história para vocês.
         Sou cadeirante e, antes de me torná-lo , tudo parecia estar indo bem... Meu pai trabalhava como pedreiro e minha mãe era professora. Eu, como qualquer outra criança, sonhava um pouco mais alto. Sonhava em ser tantas coisas, como por exemplo, jogador de futebol. Ou então jogador de basquete, astronauta...
         Afinal, sempre fui apaixonado por esportes radicais e tudo o que se remete a astros, cosmos, meteoros, estrelas, planetas... Além disso, sonhava em ser popular na escola, ter muitos amigos assim como os "playboyzinhos", riquinhos da época. Mas estava longe de ser um...
       Estava acostumado com esta ideia. Tinha espelho em casa! Pelo menos isso, eu tinha! Eu estava acima do peso, usava óculos e só tirava boas notas. Portanto, chamavam-me de "Balofofo", "quatro-olhos", "gorducho", "elefante", "nerd", entre outros e, como uma criança qualquer, senti-me muito mal. Cheguei a perder o gosto pelo estudo. Pensei em mudar meus hábitos, sei lá! Coisas que qualquer criança pensaria. Sofria, no entanto, rejeições. Por ser gordo, não tinha amigos.
          Na hora do lanche, ninguém sentava comigo. Trabalhos em dupla, fazia sozinho. Na aula de Educação Física, ninguem me escolhia. Eu ficava sempre na reserva, auxiliando o professor. O tempo foi passando e as rejeições só aumentavam, mas ninguém tomava providencias. Preferi, então, não contar aos meus pais o que estava ocorrendo, afinal, eles já tinham vários problemas para resolver. Problemas maiores, como por exemplo, a dependência química de meu irmão mais velho!
           Assim, resolvi me tornar um homem para auxiliar meus pais, afinal, ele havia sido demitido do emprego devido ao fechamento da empresa onde trabalhava.Meu pai não conseguia arranjar emprego em lugar nenhum e, a desculpa era sempre a mesma : "Estamos admitindo apenas pessoas que tenham entre 18 a 40 anos."
          Sendo assim, a situação em casa se agravava. Afinal, não dá pra sustentar 5 pessoas com o salário de uma professora, ainda mais , com um filho dependente químico. Ele já pegava dinheiro escondido, saia de casa sem dizer para onde ia e voltava depois de 2,3,4,5 dias... Foram anos e anos nessa luta constante!

           Mamãe chorava tanto, chorava junto a ela. Pegava em sua mão e sentia que ela já estava tão debilitada. Estava pálida, fraca... Resolvi tomar uma atitude e, foi assim, que saí em busca de uma solução. Saí em busca de um emprego. Foi difícil, mas acabei encontrando. Graças a Deus! Rezava todos os dias para que tudo desse certo para que mamãe não chorasse mais...
            Fui crescendo e, mamãe, enfraquecendo cada vez mais. Não podíamos pagar um médico. Meu pai, começou a ficar amargurado e, de uma hora pra outra, começou a beber. Iniciou-se, no entanto, nosso segundo maior tormento. Eu, agora, sou o homem da família. Papai batia em mim e na mamae a troco de nada! Seguramos a onda legal..
           Seu Wilson acabou saindo de casa, e meu irmão mais velho, bem.. Teve overdose!À partir daí tivemos que recomeçar do zero. Do papai, nunca mais ouvi falar. Estava agora com 18 anos! Acabei conhecendo uma moça tão delicada, a qual mais adiante virá a ser minha namorada. Quando eu poderia imaginar que haveria alguém capaz de gostar de mim pelo que eu realmente sou e nao pelo que eu aparento ser? Jamais!
           A situação com toda a certeza estava melhor. Mamãe passou de professora para cozinheira!  Fui então, convidado para uma festa. Resolvi não perder esta oportunidade e acabei indo. No entanto, estava de carona, pois não sabia dirigir. Na festa, apresentaram-me o tal do álcool.

          Lembrei,no entanto, de minha própria experiência com tal. Ninguém havia me contado, eu havia presenciado! Logo, rejeitei a bebida! Começaram a, novamente, "tirar uma onda" com a minha cara. Disseram-me que eu era "amarelão", que eu nunca sairia da barra da saia da minha mãe.
          Disseram-me ainda que eu era fraco e que se eu não aceitasse a bebida, eu não faria parte do grupo deles. Com isso, senti-me pressionado e não vi mal algum em , pelo menos, colocar um pouco de álcool em meu organismo. Acabei aceitando e,ao fim da festa, fomos ao carro. Entramos. Sentei-me ao lado do motorista.Assim, rodados já alguns quilômetros, vi-me na Avenida Verde Verão, próximo ao Colégio Leite Ferraz, quando derepente Renatinho perde a direção. O automóvel não chocou-se com postes ou outros veículos, mas sim, caiu em um barranco. Todos permaneciam desacordados.
             Este acidente foi o que me tornou paraplégico e, ao que antes fazia bem, o álcool tornou-se o maior inimigo dos "riquinhos". Ninguém sobreviveu, além de mim. Hoje, sinto-me honrado e não guardo ressentimentos. Sou feliz de olhar para trás, mesmo observando que tudo o que eu passei não foi fácil. Mas isto só me fez crescer. Aprendi a perdoar a quem me ofendia, aprendi olhar com outros olhos tudo o que a vida me proporciona. Tudo possui seu lado positivo, bem como seu lado negativo.
               Tudo o que eu passei, ensinou-me a discernir o certo do errado. O que pode ser feito do que não pode ser feito. Na vida, há a necessidade de se passar por momentos de calmaria, bem como de tormenta. Tudo, pois sem estes não se é capaz de aprender a viver. Se não vivermos cada momento, não seremos capazes de caracterizar aquilo como bom ou ruim. Sendo um destes, não se pode negar que não deixa de ser uma experiência, um aprendizado. Agrega de alguma maneira em nossa vida!
                 Hoje, depois de anos e anos lutando contra a rejeição, posso dizer que eu encontrei a forma perfeita de viver. Sou feliz e não posso negar, graças ao que eu já vivi nessa vida, embora pelo pouco tempo. Ainda viverei mais, tenha certeza disso!  Além disso, possuo um emprego, não como aquele que, quando criança sonhava, pois sonhos se modificam, lapidam, nunca morrem. Possuo um emprego relacionado ao entendimento do universo sim e, passo o dia inteiro fazendo o que eu mais gosto. Lendo sobre o universo, sobre as teorias, analisando-as! Tudo o que eu sempre quis!

                   No entanto, meus caros, a felicidade não depende do físico que a conduz mas sim, da forma como ela é conduzida! Não importa se sou cadeirante, o que importa é que eu sou capaz de muitas coisas! Sou alguém normal sim! Eu posso fazer algo que você não é capaz!

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